[Este é o segundo texto dessa nova temporada de textos que estou escrevendo aqui na minha newsletter. Semana passada escrevi sobre DORMIR, hoje é sobre REZAR. Essa série será de verbos, como talvez já tenha sido possível perceber.]
Um tempo atrás fui almoçar com um amigo.
Minha vida estava boa, não tinha muitas queixas ou problemas grandes. Estava um pouco atrapalhado com algumas decisões que precisava tomar e com desafios comuns da vida.
Então ele me perguntou:
“Você tem rezado?”
Eu não esperava por aquela pergunta. Achei que ele iria me dar algum conselho mais relacionado ao que estava vivendo.
Pensei alguns segundos e respondi:
"Não”.
E então entrei num processo de reflexão profunda. Por que é que eu rezo somente quando as coisas estão difíceis? Por que eu rezo somente quando se esgotaram os meus recursos? Por que minha relação com a espiritualidade era apenas algo que acontecia em momentos desesperadores da vida?
Nessa conversa, ele me lembrou do que realmente importa na minha vida com apenas algumas palavras. Com apenas uma pergunta.
Talvez por nunca ter feito parte de nenhuma religião, não ter um guru e não pertencer a nenhum caminho espiritualista determinado, eu nunca desenvolvi essa relação habitual com a oração. Sempre fui mais conectado à meditação. E, conhecendo pessoas que têm uma relação mais livre com a espiritualidade, percebi que não era apenas comigo. Por algum motivo, nos distanciamos (ou talvez nunca estivemos conectados) do hábito de rezar.
Essa conversa foi alguns anos atrás. Mas, de tempos em tempos, eu volto a ela. E aí me dou conta de que não tenho rezado.
Quando alguém próximo a mim está muito doente, como foi com meu pai, eu rezo muito. Quando estou com algum desafio grande, eu rezo.
Mas quando as coisas vão bem, eu parava de rezar. Era como se pensasse que não havia necessidade. Ou talvez por uma espécie de autossuficiência, de achar que posso dar conta da minha vida sozinho, sem precisar de uma intervenção divina.
Hoje isso mudou em mim. Eu cultivo diariamente o hábito de rezar. No começo, era ao acordar e antes de dormir. Agora tenho procurado rezar muitas vezes ao dia. Criar gatilhos e âncoras que me lembrem de elevar meus pensamentos e contar com a ajuda do sagrado na minha vida. Mesmo nas escolhas mais simples.
O hábito de rezar trouxe a espiritualidade para mais perto de mim. Minha mente se ampliou para considerar que existem outras camadas da existência o tempo todo.
Várias vezes ao dia, eu me conecto com o sagrado, com Deus, com meus guias, com meus ancestrais e peço por orientação. “Eis-me aqui. O que faço agora?”
Rezar é um ato de humildade. É reconhecer que existe uma força superior, que existem muitas camadas da existência e que nem tudo depende do nosso esforço individual. Na realidade, acredito hoje que muito pouco do que acontece depende do que eu faço. Eu apenas devo fazer e cumprir com a pequena parte que me cabe. Todo o resto acontece por motivos que desconheço.
Recentemente, meu amigo indígena Kleykeniho Fulniô esteve em casa por alguns dias. Percebi que ele fica rezando o tempo todo. Enquanto eu fico pensando, ele reza. Quando comentei com ele sobre isso, ele me disse que essa é a diferença básica entre o índio e o não índio. Como seria se eu rezasse mais do que pensasse?
Deixo aqui algumas dicas para quem sente que precisa se reconectar mais com o hábito de rezar:
Começar com o início do dia. Antes de pegar o celular ou fazer qualquer coisa, lembre-se de rezar. Pode ser apenas agradecer.
Antes de dormir é um excelente momento para fazer isso também e entrar em outra frequência no sono. Inclusive, ajuda a ter sonhos bons.
Se você tiver um altar, crie um hábito diário de conexão com o altar. Pode ser, por exemplo, acender uma vela ou um incenso. Todos os dias. Sempre no mesmo momento, para virar um hábito.
Use algum instrumento. O cachimbo tem sido uma grande ferramenta minha ultimamente. Eu acendo e, durante o tempo que estou com ele aceso, elevo meus pensamentos com a fumaça que sopro.
Antes de ocasiões importantes, peça guiança. Eu faço isso sempre que tenho uma reunião importante, quando vou falar para muitas pessoas ou participar de eventos públicos.
Rezar não é só pedir. É também agradecer.
Meditação é escutar Deus. Rezar é falar com Deus.
Eu termino este texto com a mesma pergunta que meu amigo me fez:
Você tem rezado?
Para quem não sabe, este ano lançamos a Escola de Virtudes. E agora estamos começando a movimentar a agenda da Escola e vai ter muita coisa legal acontecendo praticamente toda semana.
Nesta quinta-feira, 29 de maio, eu vou dar uma Masterclass chamada O Poder das Virtudes. Vou falar sobre como as virtudes são um poder escondido dentro de cada pessoa e o que podemos fazer para acordar essa força invisível.
Você pode acompanhar as atividades da Escola no nosso Instagram @escoladevirtudesoficial, e o link deste evento está aqui:
👉 https://www.sympla.com.br/evento-online/masterclass-o-poder-das-virtudes/2962805
Texto incrível! Também não desenvolvi o hábito por não seguir nenhuma estrutura ritualística fixa. Mas quero me aproximar disso mais 🤍 e inserir na minha vida
bem legal. me vejo sempre nesse dilema e tenho tentado trazer essa reza para vários momentos. obrigada por compartilhar!