Somos os anciões de amanhã
Uma reflexão sobre como nos relacionamos com que já viveu mais aqui...
Já faz bastante tempo que começou a pandemia. De lá pra cá já deu tempo de pensar muita coisa. Parece uma das séries que gosto de assistir, em várias temporadas e muitos episódios em cada uma. Mas tem um tema que continua vivo aqui nas minhas reflexões sobre a vida desde o início: a forma como nos relacionamos com as pessoas que viveram mais na nossa sociedade.
No começo, fiquei muito incomodado ao ver os mais velhos sendo considerados apenas "Grupo de risco" e ver tantas pessoas defendendo que eles fossem isolados para que a vida seguisse normalmente.
Na cultura japonesa aprendemos desde cedo a desenvolver um profundo respeito pelos mais velhos. Isso se dá tanto pela hierarquia, respeitando os avós e pais, quanto mesmo na ordem de quem veio antes na família. Assim, desde cedo eu aprendi que as pessoas que nasceram antes nós escutamos, cuidamos e aprendemos.
Naturalmente, ao entrar na minha adolescência, passei a ir contra o que os mais antigos diziam, em busca da minha voz. Mas apesar deste anseio por independência e conhecer meu próprio valor, estes valores já estavam introjetados dentro de mim.
Isso é algo que eu não sei se consigo explicar aqui em palavras, mas pode ser provado pelo fato de que sempre me dei bem com os pais dos meus amigos e mais ainda com seus avós.
Por algum motivo, na cultura ocidental e aqui no Brasil especialmente, não existe este respeito. Quem tem mais idade é descartado do mercado de trabalho, é visto como ultrapassado e em algum momento da vida torna-se um peso para a família. E eu acredito que quem viveu mais é um ancião e não alguém desatualizado. Um ancião é portador da sabedoria. Tem muito a ensinar.
Eu tenho ido muito aos hospitais nas últimas semanas e por isso tenho visto muitas cenas de pessoas mais velhas sendo cuidadas e precisando de cuidado. Em alguns momentos vejo demonstrações de carinho e amor que emocionam. Em outros, me entristece ao ver alguém sozinho, ou sendo cuidado por um profissional para que os filhos não precisem se afastar do trabalho.
Onde quero chegar com essa reflexão?
Em quase 37 anos de vida, nunca parei para pensar na minha velhice. Me parece ainda hoje algo tão distante que não é preciso me preocupar com isso agora. Eu sempre tive dificuldade, por exemplo, em aceitar conselhos de guardar dinheiro para minha aposentadoria. Ou de cuidar da minha saúde pensando em quando eu tiver mais de 70 anos.
Mas recentemente comecei a pensar nisso. Pensar em como quero morrer. Ao invés de pensar no que eu quero ser quando crescer, tenho pensado em quem eu quero ser quando morrer.
E a resposta que me vem é "Quero morrer sábio".
Mas então vem a pergunta. Como se torna um sábio? Como se conquista sabedoria? Será que é algo que se conquista ou é algo que se recebe?
Eu ainda não sei a resposta, mas suspeito que ela seja alcançada mais com perguntas que com respostas.
O fato é: NÓS SOMOS OS ANCIÕES DE AMANHÃ.
Eu acredito que é preciso uma mudança de cultura e que ela é possível quando fazemos a nossa parte.
A nossa parte para a implementação de uma cultura de respeito aos anciões é mudar a forma como os enxergamos e como nos relacionamos hoje. Tratá-los com honra e reverência é não apenas um ato de respeito, mas a pavimentação de uma estrada para aquilo que nós também queremos viver.
Se você ainda tem seus avós vivos, esteja por perto, faça perguntas, conheça suas raízes, dedique-se a essa investigação. Mas sobretudo, cuide e demonstre seu amor e respeito.
Eu não os tenho mais aqui comigo e por isso tenho buscado me aproximar dos anciões que acredito que têm muito a me ensinar e dedicar minha atenção e carinho àqueles que cruzam meu caminho, mesmo que seja só no supermercado ou numa fila. É minha maneira de praticar o que aprendi com meus avós.
Gustavo Tanaka