Hoje inicio uma série de textos que serão compartilhados na minha newsletter. Quero falar sobre temas básicos, compartilhando minha forma de enxergar a vida e os aprendizados que tive até aqui.
Decidi começar pela atividade mais essencial de qualquer ser humano: dormir.
Um bebê, ao nascer, dorme muito. Ninguém contesta a necessidade de um bebê dormir. Mas, tão logo uma criança entra no sistema, precisa se ajustar à rotina da escola e ao trabalho dos pais. E muito cedo, essa necessidade deixa de ser respeitada. É um crime fazer uma criança acordar cedo demais para ser deixada na escola antes de os pais irem trabalhar.
Mas isso é apenas uma consequência de uma lógica que vê o descanso como perda de tempo — ou coisa de gente preguiçosa.
Eu, até hoje, estou tentando romper com essas crenças.
Fui acostumado desde cedo a acordar cedo. Seguia à risca a ideia de que “Deus ajuda quem cedo madruga”. Lembro até hoje de uma campanha no programa eleitoral do Paulo Maluf. Ele dizia que o segredo para cuidar bem de São Paulo seria “dormir tarde e acordar cedo”. Por algum motivo, essa frase ecoou por anos na minha mente. Tanto que até hoje me recordo dela.
Sempre me orgulhei de acordar cedo. Achava o máximo dizer que precisava de apenas 6 ou 7 horas de sono. Para mim, isso era sinal de que eu era uma pessoa evoluída.
Vivi quase toda a minha vida assim: dormindo o mínimo necessário para continuar funcionando.
Até que, recentemente, tive um burnout.
Percebi que minha mente não estava funcionando bem. Acordava sempre cansado. E, em vez de descansar mais, achava que precisava ser ainda mais produtivo — acordar mais cedo para meditar, fazer mais exercícios, produzir mais. Também percebi que estava cada vez mais dependente de café. Resultado: além da mente exausta, o corpo sucumbiu. Fiquei doente.
Foi então que resolvi experimentar o oposto do que fiz a vida toda: decidi dormir o máximo que pudesse.
Passei a dormir 9 a 10 horas por noite. Com o passar dos dias, minha vitalidade foi voltando, minha criatividade reapareceu e minha mente começou a ficar mais afiada. Reduzi o consumo de café (ouvi certa vez que o café é um ótimo recurso, mas um péssimo hábito — e isso fez sentido para mim).
Dormir mais significava acordar por volta das 8h, em vez das 5h ou 6h, como eu fazia antes. Isso exigiu enfrentar várias resistências. Tive que reorganizar minha agenda para evitar compromissos cedo. Precisei mudar minha rotina para conseguir dormir antes das 22h. E, para dormir cedo, é preciso parar de trabalhar mais cedo. É um ciclo. Uma coisa leva à outra.
Junto com essas mudanças, precisei confrontar minhas crenças. Me libertar da ideia de que quem acorda mais tarde é preguiçoso. Ser firme na minha escolha de não marcar compromissos antes das 10h30. E compreender que, quando estou descansado, trabalho melhor e faço mais em menos tempo.
O descanso se tornou uma prioridade para mim.
Claro que nem todos os dias são ideais. Ainda preciso acordar cedo de vez em quando por causa de alguns compromissos. Mas a base permanece: meu descanso é importante.
Tenho consciência de que nem todo mundo pode fazer isso agora — seja por ter filhos pequenos, um trabalho com horário fixo ou deslocamentos longos.
Mas penso que essas devem ser fases da vida, e não um destino permanente. O descanso é a base da nossa existência. Se não respeitarmos essa necessidade, dificilmente teremos uma vida longa e saudável. Devemos ser firmes na determinação de nos libertarmos do que nos impede de viver a vida que queremos. Sempre há caminhos, escolhas e possibilidades de negociação. Ninguém é totalmente vítima da vida ou das circunstâncias.
Se esse texto ressoou aí dentro, deixo algumas sugestões práticas:
Cuidar da sua manhã
Evite compromissos logo cedo. Que haja exceções, mas que não sejam regra.
Acorde sem precisar fazer nada. Sem "ter que" meditar, se exercitar, escrever. O “tem que” é uma prisão autoimposta.
Evite o café como hábito diário.
Deixe sua energia emergir naturalmente. Não force o corpo com estímulos.
Preparar a entrada no sono
Durma mais cedo.
Para dormir cedo, pare de trabalhar mais cedo.
Reduza o uso de telas e estímulos mentais à noite.
Prefira luzes indiretas em casa. (Eu amo abajur).
Deixe filmes e séries estimulantes para as tardes de fim de semana.
Prefira leitura ou conteúdos leves e inspiradores antes de dormir.
Trabalhar suas crenças
Liberte-se das opiniões dos outros.
Entenda que descansar não é preguiça — é autocuidado.
Experimente o que faz sentido e vá ajustando sua rotina com gentileza.
Espero que este texto tenha te inspirado a olhar com mais carinho para seu descanso e te ajude a criar a vida que você merece viver.
Te desejo paz.
Gustavo Tanaka
Me lembrou do Sidarta Ribeiro contando que quando se mudou de país pra fazer mestrado (acho que era isso), ele se sentia extremamente sonolento e exausto cognitivamente, e não processava muita coisa.
Achou que não ia dar conta.
Passou a dormir o máximo possível (inclusive acabava cochilando por acidente nas aulas) e depois de um tempo X, ele estava recuperado e sua cognição conseguiu se ajustar às novas demandas!
😴
Essa tem sido uma das minhas escolhas também, Gustavo. Sempre senti que precisava de umas 9 horas de sono para funcionar bem, mas a pressão social falou mais alto por muitos anos. De uns tempos pra cá passei a buscar os “pontos de acupuntura” da rotina, aqueles essenciais que, se faço ou respeito, criam um novo setup no corpo e na mente e influenciam positivamente todo o meu dia. Dormir o suficiente, yoga e alimentação consciente tem sido os meus pontos de acupuntura e viraram o jogo da qualidade de vida. As vozes da culpa ainda incomodam, mas já não falam tão alto. Obrigada por compartilhar, querido.